Jesus queria ensinar sobre o perdão, e em uma de suas parábolas chamou a atenção daquele povo que o seguia. Mas, para nós – quando lemos, parece uma simples história. Veremos que não é, leia:
Por isso o reino dos céus pode comparar-se a um certo rei que quis fazer contas com os seus servos;
E, começando a fazer contas, foi-lhe apresentado um que lhe devia dez mil talentos;
E, não tendo ele com que pagar, o seu senhor mandou que ele, e sua mulher e seus filhos fossem vendidos, com tudo quanto tinha, para que a dívida se lhe pagasse.
Então aquele servo, prostrando-se, o reverenciava, dizendo: Senhor, sê generoso para comigo, e tudo te pagarei.
Então o Senhor daquele servo, movido de íntima compaixão, soltou-o e perdoou-lhe a dívida.
Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus conservos, que lhe devia cem dinheiros, e, lançando mão dele, sufocava-o, dizendo: Paga-me o que me deves.
Então o seu companheiro, prostrando-se a seus pés, rogava-lhe, dizendo: Sê generoso para comigo, e tudo te pagarei.
Ele, porém, não quis, antes foi encerrá-lo na prisão, até que pagasse a dívida.
Vendo, pois, os seus conservos o que acontecia, contristaram-se muito, e foram declarar ao seu senhor tudo o que se passara.
Então o seu senhor, chamando-o à sua presença, disse-lhe: Servo malvado, perdoei-te toda aquela dívida, porque me suplicaste.
Não devias tu, igualmente, ter compaixão do teu companheiro, como eu também tive misericórdia de ti?
E, indignado, o seu senhor o entregou aos atormentadores, até que pagasse tudo o que lhe devia.
Assim vos fará, também, meu Pai celestial, se do coração não perdoardes, cada um a seu irmão, as suas ofensas. Mateus 18:23-35
O que há de tão importante nesta parábola?
Em primeiro lugar, precisamos entender porque Jesus achou necessário contar essa parábola. Foi por causa de uma pergunta auto-afirmativa do apóstolo Pedro. Ele perguntou a Jesus quantas vezes seria necessário perdoar um irmão, mas o próprio discípulo deu o número 7 (vezes). Mateus 18: 21-22.
Na verdade, o apóstolo estava querendo demonstrar a Jesus sua humildade, seu poder de perdoar, pois naquela sociedade judaica, o costume era perdoar uma pessoa até 3 vezes, sendo assim, Pedro mais que dobrou essa quantia para que Jesus sentisse orgulho dele. No linguajar de hoje, certamente falaríamos que Pedro queria “se mostrar” pro seu líder.
A cobrança da dívida
A parábola começa falando sobre um Rei que quis prestar contas com seus devedores e chamou um em especial que devia uma quantia diferenciada.
Quanto o devedor devia?
Ele devia a “bagatela” de 10.000 talentos. Em uma leitura rápida, parece que não é muito, mas precisamos entender essa quantia para ter a dimensão da mensagem apresentada nesta parábola. O Talento era uma das moedas de valor usadas em Israel e também em outros países nos tempos de Jesus, assim como o Dólar, Euro, Libra são moedas usadas hoje em dia em vários países.
O Talento poderia ser de ouro ou de prata:
– 01 Talento de prata valeria hoje cerca de 6.000,00 dólares (U$) em conversão direta.
– 01 Talento de ouro valeria hoje cerca de 180.000,00 dólares (U$) em conversão direta.
Nota: usamos a conversão em dólar devido a estabilidade desta moeda.
Provavelmente Jesus estava se referindo ao Talento de Ouro já que Sua intenção era demonstrar uma importância nesta parábola.
Então, quanto o devedor devia mesmo? Vamos fazer as contas?
– 01 Talento de ouro é igual a U$ 180.000,00 (dólares), mas o devedor devia 10.000,00 talentos, ou seja, 10.000 x U$ 180.000 = U$ 1.800.000.000 (um bilhão e oitocentos milhões de dólares).
Nota: Faça a conversão de 1,8 bilhão de dólares em Reais (moeda brasileira) e você verá o valor astronômico que dará.
Já imaginou alguém que deve quase 2 bilhões de dólares e tem que pagar tudo de uma vez só?
Bom, hoje em dia existem pessoas bilionárias que até poderiam pagar essa dívida, mas naquele tempo ninguém tinha tamanha fortuna, a não ser impérios ou reinos inteiros e obviamente Jesus sabia disso e por isso usou essa parábola extrapolando o valor devedor para mostrar que era algo impagável do ponto de vista daquele simples servo.
Logicamente que esse devedor não tinha como pagar, por isso, o rei da parábola ordenou vender ele, sua mulher e seus filhos como escravos e também tudo o que o devedor tinha para pagar a dívida, pois esse era o contrato. Mas aquele devedor caiu em reverência e implorou ao rei que este tivesse paciência para com ele que ele iria pagar toda dívida.
Só pra se ter uma ideia, o historiador judeu Flávio Josefo relatou que os impostos pagos naquele tempo em toda a Galileia para o Império Romano era cerca de 200 talentos ao ano. Então, como será que esse devedor imaginava pagar essa dívida?
Porém, algo interessante acontece após o rei ver aquela cena de desespero do devedor: O rei simplesmente movido de compaixão, perdoa/cancela/acaba com a dívida daquele homem e o deixa ir embora.
Já imaginou alguém em sã consciência perdoar uma dívida de quase 2 bilhões de dólares? Você faria isso?
Já imaginou também a felicidade daquele devedor e o alívio que ele deve ter sentido ao saber que nem ele e nem sua família seriam vendidos e que não precisaria mais se preocupar em pagar mais nada aquele rei?
A história poderia ter acabado por aí e estaria tudo ótimo, pelo menos para o devedor. Mas… infelizmente a história continua e com um desfecho mais triste ainda. O devedor incompassivo saiu da presença do rei e encontrou um conhecido que lhe devia 100 denários e sem mais delongas agarra o seu conhecido pelo pescoço e sufocando-o dizia: “paga o que me deve“, mas o seu conhecido de joelhos implora que este tenha paciência para com ele, que iria pagar toda dívida. Ou seja, faz a mesma súplica que o devedor fez ao rei.
– 01 denário equivale a U$ 10,00 (dólares), então 100 denários x U$ 10,00 = U$ 1.000,00 (mil dólares)
Porém, o devedor incompassivo não teve a mesma compaixão que o rei teve com ele, pelo contrário, mandou prender seu conhecido até que ele conseguisse lhe pagar. Quando os outros companheiros dele, viram o que havia acontecido, ficaram muito tristes e foram contar ao rei.
Então o rei chamou o devedor incompassivo e disse: “Servo mau, cancelei toda a sua dívida porque você me implorou. Você não devia ter tido misericórdia do seu conhecido como eu tive de você?”
E indignado, o rei entregou-o aos torturadores, até que pagasse tudo o que devia.
Desta vez não teve conversa, o rei viu a intenção do coração daquele devedor incompassivo, pois ele não teve compaixão de seu conhecido e não lhe perdoou a dívida. O rei também não poderia lhe perdoar, pois não seria justo.
O que Jesus quis dizer com toda essa história?
Assim também lhes fará meu Pai celestial, se cada um de vocês não perdoar de coração a seu irmão. Mateus 18:35
Jesus estava ensinando que:
1º O rei representava Deus;
2º A dívida absurda, representava nosso pecado;
3º O devedor incompassivo representava qualquer pessoa, eu e você, que necessitamos do perdão de Deus;
4º O conhecido representava o próximo, a pessoa que necessita de nosso perdão.
Deus nos ama e perdoa nossas dívidas (nossos pecados), mesmo que pareçam imperdoáveis, pois para Ele nada é impossível (Lucas 1:37), e o que importa é reconhecermos que não podemos por nós mesmos pagá-las, nunca.
Se Deus perdoa dívidas imperdoáveis, então Ele espera que nós possamos perdoar aqueles que carecem de nosso perdão, os que pecam contra nós, esse é o mínimo que podemos fazer.
A aceitação do perdão é igualmente importante
Como vimos, o devedor incompassivo não quis perdoar o seu conhecido, mas o problema maior é que ele não aceitou o perdão do rei (Deus), porque ele achava que o rei poderia mudar de ideia e chamá-lo a qualquer momento para cobrar novamente a sua dívida e por isso é que ele cobrou seu conhecido e muito provavelmente iria cobrar de outros que lhe deviam a fim de resgatar o máximo de valor possível para entregar ao rei caso esse o chamasse novamente para cobrá-lo. Ou seja, o devedor incompassivo não aceitou o perdão.
Ainda hoje existem pessoas que não aceitam que Deus pode, através de Jesus Cristo, perdoar seus pecados (dívidas) e também por isso, não conseguem perdoar a seus próximos. Por isso é mais do que importante além de perdoar ao nosso próximo, aceitar que Deus, em primeiro lugar, nos perdoa por completo se nos arrependermos e de coração aberto pedir Sua compaixão.
Jesus ensinou que quando Deus perdoa, perdoa por completo, não volta atrás, pois
Deus não é homem para que minta nem filho do homem para que se arrependa. Números 23:19.
Mas ao mesmo tempo que Deus é amor, também é justiça. Por esta razão, essa parábola é um grande alerta, pois mesmo que Ele nos perdoe completamente, se não perdoarmos nosso próximo, não podemos receber do perdão completo de Deus.
E você, já perdoou quem lhe fez algum mal? E mais importante, já aceitou o perdão de Deus?
Se não, ainda há tempo! Hoje mesmo dobre seus joelhos ao chão e peça com todas as forças a Jesus que lhe ajude, pois o processo de perdoar e aceitar o perdão não é nada fácil para a maioria das pessoas e só Jesus irá confortar seu coração de maneira completa para que você consiga perdoar e aceitar o perdão de Deus.
Imagem fonte: Sentinela Online Biblioteca