Chaplin era ateu e Hitler era cristão?

Chaplin era ateu e Hitler era cristão?
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Essa é uma discussão que geralmente surge em rodas de debates entre ateus e cristãos. Ingenuamente, os neo-ateus se utilizam de façanhas como por a foto de Adolf Hitler ao lado da foto de Charlie Chaplin com as legendas: “Cristão”, ou “Católico”, para Hitler e “Ateu” para Chaplin.

Alguns que compartilham tal foto podem até mesmo querer passar a ideia de que a fé não define o caráter, porém muitos usam essa montagem para expor sua ignorância gratuita a afirmarem que, como cristão, Hitler era um monstro, enquanto que Chaplin, como ateu, era um homem bom e inteligente, querendo dizer com isso que o ateísmo é melhor que o cristianismo.

Tal imagem, no entanto, comete equívocos profundos! Sim, Charles Chaplin era um bom homem. E muito inteligente, também! Mas era mesmo ateu? E quanto a Hitler? Podemos afirmar que se tratava de um homem cristão?

Em primeiro lugar, Chaplin não era ateu, mas agnóstico. De acordo com seu filho, Charles Chaplin Jr., em seu livro “Meu Pai, Charlie Chaplin” (inédito no Brasil), seu pai haveria afirmado coisas como:

Eu não sou um ateu […] Eu sou definitivamente um agnóstico. Alguns cientistas dizem que se o mundo fosse parar de girar nós todos desintegraríamos. Mas o mundo continua girando. Algo deve estar segurando a todos nós no lugar […] Alguma Força Suprema. Mas o que é, eu não poderia te dizer. [1]

Já Hitler, em público, referiu-se a si mesmo como um seguidor de Jesus. [2] Em seu livro, Mein Kampf (Minha Luta), enaltece ao Senhor Deus por várias vezes. [3] Mas afirmar isso publicamente o qualifica realmente como um cristão? Não necessariamente!



Jesus disse:

Este povo se aproxima de mim com a sua boca e me honra com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim. (Mateus 15.8) E:

Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros. (João 13.34,35)

Mesmo diante de tais passagens bíblicas, e do vasto conhecimento histórico que se tem a respeito do nazismo de Hitler, muitos ainda insistem em dizer que tal homem era cristão. Mais precisamente, um católico. Mas vamos descobrir qual foi a verdadeira motivação de Hitler em relação a Igreja, a Bíblia e a Deus.

Adolf Hitler nasceu em um lar cristão. E por isso, quando criança, foi batizado na igreja católica. Mas o historiador Allan Bullock escreve que desde cedo,

Hitler não tinha tempo algum para os ensinos do Catolicismo, considerando-o como religião adequada somente para os escravos e detestando sua ética. [4]

Mas, como já mencionado, no início de sua carreira política, Hitler invocou o nome de Deus por diversas vezes. Contudo, alegar que essa retórica faz dele um cristão é confundir oportunismo político com convicção pessoal. O próprio Hitler diz em Mein Kampf que seus pronunciamentos públicos deviam ser entendidos como propaganda, sem relação com a verdade, mas planejados para influenciar as massas. [4] Com certeza, uma boa jogada para se fazer em um país de maioria cristã.

Hitler chegou a fazer a assinatura da Concordata Nazi-Vaticana em 1933. Tal acordo proporcionava o apoio da igreja católica à Hitler que em troca recebia total liberdade religiosa dentro da Alemanha nazista.

Neste ano, assim como nos anteriores, Hitler disse coisas maravilhosas sobre o cristianismo. Mas como a história nos revela, ele não passava de um lobo em pele de cordeiro. E mostrou a sua lã para a igreja e para o mundo. Sua real intenção, no entanto, era de destruir o cristianismo na Alemanha a partir de dentro.



De acordo com Baldur von Schirach, o líder nazista dos jovens alemães, que mais tarde seriam conhecidos como Juventude Hitlerista,

A destruição do cristianismo foi explicitamente reconhecido como um objetivo do movimento nacional-socialista. [5]

Em 2002 foi descoberto um relatório de 120 páginas datado do ano de 1940. Onde se encontravam os planos completos de Hitler para o cristianismo. Tal documento foi compilado pelo OSS, uma agência americana de espionagem na II Guerra Mundial. O relatório ficou conhecido como “O Plano Diretor Nazista: A perseguição às Igrejas Cristãs”. [5]

Segundo H. R. Trevor-Roper, autor do livro Hitler’s Table Talk (Conversas à mesa com hitler), o ditador alemão dizia coisas como:

O Cristianismo é uma rebelião contra a lei natural, um protesto contra a natureza. Em sua lógica extrema, o Cristianismo significa o cultivo sistemático da falha humana. [6, p. 57]

Quanto mais seu poder aumentava, mais sua tolerância religiosa também desaparecia. E naquela mesma década, Hitler finalmente passou a colocar seus planos em prática. Ele tentou substituir o cristianismo alemão pela “Igreja Nacional do Reich”. Uma ideologia onde não haveria fé em Deus, mas apenas em Hitler, e desenvolveu um plano de 30 pontos para sua nova Igreja, que foi até mesmo publicado no New York Times em 1942.

Entre as regras havia:

13. A Igreja Nacional exige a imediata publicação da cessação e difusão da Bíblia na Alemanha.

14. A Igreja Nacional declara que para ela, e consequentemente, para toda a nação alemã, ficou decidido que Mein Kampf (Minha Luta), do Führer, é o maior de todos os documentos. Ele (…) não somente contém a maior, mas incorpora a mais pura e verdadeira moral para a vida atual e futura de nossa nação.

15. No dia de sua fundação a cruz cristã deve ser removida de todas as igrejas, catedrais e capelas e deve ser substituída pelo único símbolo inconquistável – a suástica.

Ainda que Hitler tivesse retirado a Bíblia das igrejas e introduzido o Mein Kampf, uma grande tiragem de sua própria versão da bíblia foi produzida e distribuída para servir de leitura de apoio junto a sua auto biografia. Segundo conta Ray Comfort, autor do livro “Hitler, Deus e a Bíblia”, o ditador adulterou toda a palavra de Deus ao seu próprio prazer. [7]

Entre as adulterações estão seus próprios 12 mandamentos, no lugar dos 10 dados por Deus a Moisés, a retirada de palavras como aleluia e até sua própria versão da oração do Senhor, em que ele é a fonte de salvação e suprimento para o povo alemão. Na bíblia de Hitler, Jesus não era judeu e ainda por cima os odiava e perseguia. Também não era o Filho de Deus, nem enviado por Deus.

Quanto a isso, o apóstolo João afirmou:

E todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e eis que já agora está no mundo. (I João 4.3)

Sobre a questão de Hitler ser ou não cristão, em seu comentário sobre o livro, o colunista da WND, Jim Fletcher, argumenta:

…depois de comparar as metas e convicções de Hitler com o verdadeiro Cristianismo, Comfort responde à pergunta do que Hitler realmente era: ‘Ele era um mentiroso’. [8]



Texto cedido por: Gabriell Estevenson, Apologética XXI

Referências:

[1] Charles Chaplin, Jr. Meu pai, Charlie Chaplin. Pg 239-240. Trechos disponíveis [neste link]

[2] Baynes, Norman H. The Speeches of Adolf Hitler: April 1922-August 1939.

[3] Hitler, Adolf. Mein Kampf. Capítulos 1, 2, 5, 7, 8 e 11. Trechos disponíveis [neste link]

[4] Dinesh D’Souza. Was Hitler a Christian? Disponível [neste link]

[5] Joe Sharkey. Word for Word/The Case Against the Nazis; How Hitler’s Forces Planned To Destroy German Christianity. The New York Times. Disponível [neste link]

[6] H. R. Trevor-Roper. Hitler’s Table Talk. Trechos disponíveis [neste link]

[7] Ray Comfort. Hitler, God & The Bible.

[8] Jim Fletcher. How Hitler twisted the Bible to kill the Jews. Disponível [neste link

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