Música e a Bíblia – contexto bíblico e sua importância

Música e a Bíblia
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A relação do judaísmo com a música é muito interessante. Vemos que depois da destruição do Templo de Salomão (70 d.C), os rabinos proibiram o uso de instrumentos, pois, segundo justificaram tempos depois, a música somente teria o seu sentido mais elevando na presença do Templo. Com efeito, isso somente foi mudar no Séc. XIX, quando o judaísmo reformado (especialmente na Europa) passou a reintroduzir instrumentos musicais em sua prática.

Diante disso, fiquei pensando como havia sido a relação deste povo com a música lá no início, quando tudo começou. Por essa razão, escolhi abordar como a música aparece no meio do povo de Deus conforme podemos aprender a partir dos livros de Moisés.

Antes de entrar no assunto, só gostaria de relembrar que os livros de Moisés são os cinco primeiros livros da Bíblia (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio). A este conjunto de livros, o cristão chama de Pentateuco e o judeu, de Torá.

A primeira aparição nos livros de Moisés de algum elemento relacionado à música ocorre no livro de Gênesis, quando ele se refere a Jubal. Jubal era descendente não distante de Adão, na seguinte ordem: Adão, Caim, Enoque, Irade, Meujael, Metusael, Lameque, e por fim Jubal.

Segundo a Bíblia, Jubal foi o pai de todos os que tocam harpa (כנור, em hebraico) e (עוגב, em hebraico) flauta. (Gênesis 4:21). Em outras palavras, foi ele que inventou os instrumentos musicais de corda e de sopro.



As Escrituras não dizem como e para que fim Jubal utilizou a sua música. Rashi (רש”י), que é um renomado rabino francês da Idade Média deus a entender em seus comentários a Tanakh (o Antigo Testamento, na nomenclatura judaica), que Jubal fazia música para adorar ídolos, tal como o fazia seu pai, Lameque. Muito provavelmente, antes de tal afirmação ser algo a ser tomado contra Jubal, era por certo um sintoma do desconforto dos judeus com a utilização da música sem a presença do Templo.

Música como expressão de Alegria

Voltando à Bíblia, vemos que os capítulos 6 a 8 de Gênesis narram o dilúvio, reduzindo a humanidade a apenas 8 pessoas. Noé, sua esposa, seus três filhos com as respectivas esposas. Após este evento catastrófico, as Escrituras voltam a se referir à música apenas no capítulo 31:

Por que fugiste ocultamente, e lograste-me, e não me fizeste saber, para que eu te enviasse com alegria, e com cânticos, e com tamboril e com harpa? (Gênesis 31:27)

Temos aqui uma referência à expressão musical como método de festejar a alegria.

Música (e Dança) como expressão de agradecimento a Deus pelas Conquistas e Vitórias

Certamente, a celebração da alegria, da vitória, do entusiasmo é uma das utilizações mais importantes da música, tanto que a aparição seguinte na Bíblia é da mesma natureza. Falo da celebração de Moisés por Deus ter feito seu povo atravessar o mar, enquanto o exército egípcio que o perseguia pereceu nas águas.

Então cantou Moisés e os filhos de Israel este cântico ao SENHOR, e falaram, dizendo: Cantarei ao SENHOR, porque gloriosamente triunfou; lançou no mar o cavalo e o seu cavaleiro. (Êxodo 15:1)

Da mesma forma, o mesmo capítulo do livro de Êxodo relata outra comemoração musical pelo mesmo fato, desta vez explicitamente associada à dança.

Então Miriã, a profetisa, a irmã de Arão, tomou o tamboril na sua mão, e todas as mulheres saíram atrás dela com tamboris e com danças. E Miriã lhes respondia: Cantai ao Senhor, porque gloriosamente triunfou; e lançou no mar o cavalo com o seu cavaleiro. (Êxodo 15:20-21)

Neste ponto, gostaria que você prestasse atenção a um detalhe: Miriã foi chamada de profeta.

Música como expressão do Sobrenatural

Conforme lemos no livro de Miquéias (6:4, em especial), Deus falava com Miriã, o que justifica o seu título de profeta (tal como era no tempo antes do envio do Espírito Santo). No entanto, não podemos esquecer que o dom e a habilidade musical são várias vezes associados à profecia nas Escrituras.




A este respeito, tomo a liberdade de citar passagens fora dos cinco livros de Moisés, para explicar a passagem de Êxodo citada anteriormente. Vamos a elas:

Então chegarás ao outeiro de Deus, onde está a guarnição dos filisteus; e há de ser que, entrando ali na cidade, encontrarás um grupo de profetas que descem do alto, e trazem diante de si saltérios, e tambores, e flautas, e harpas; e eles estarão profetizando. (1 Samuel 10:5)

E Davi, juntamente com os capitães do exército, separou para o ministério os filhos de Asafe, e de Hemã, e de Jedutum, para profetizarem com harpas, com címbalos, e com saltérios; e este foi o número dos homens aptos para a obra do seu ministério. (1 Crônicas 25:1)

Nem de longe estou querendo dizer que só há expressão do sobrenatural se houver música. O que estou dizendo é que a música sempre se relacionou com o elemento profético, embora não seja necessária a ele.

Música como expressão de elementos práticos

O Pentateuco também registra a utilização da música para fins bem específicos, como o de reunir as pessoas. É interessante notar isso, pois aqui saímos pela primeira vez do padrão do uso espontâneo da música para louvar a Deus.

A passagem em que a música é utilizada para juntar a congregação é a seguinte:

Falou mais o SENHOR a Moisés, dizendo:
Faze-te duas trombetas de prata; de obra batida as farás, e elas te servirão para a convocação da congregação, e para a partida dos arraiais.
E, quando as tocarem, então toda a congregação se reunirá a ti à porta da tenda da congregação.
Mas, quando tocar uma só, então a ti se congregarão os príncipes, os cabeças dos milhares de Israel.
Quando, retinindo, as tocardes, então partirão os arraiais que estão acampados do lado do oriente.
Mas, quando a segunda vez retinindo, as tocardes, então partirão os arraiais que estão acampados do lado do sul; retinindo, as tocarão para as suas partidas.
Porém, ajuntando a congregação, as tocareis; mas sem retinir. (Números 10:1-7)

Música como agradecimento por Milagres

Também devo registrar que os livros de Moisés registram a utilização da música para agradecer o milagre de Deus em fornecer água para o povo de Israel. Aqui, em certo sentido, voltamos à celebração.

E dali partiram para Beer; este é o poço do qual o Senhor disse a Moisés: Ajunta o povo e lhe darei água. Então Israel cantou este cântico: Brota, ó poço! Cantai dele. (Números 21:16-17)

Conclusão

Em conclusão, o que vemos é que os livros de Moisés narram uma relação muito positiva com a música. Vemos que a música é relacionada com a alegria, com o agradecimento a Deus pelas conquistas, com a expressão do sobrenatural, como meio de utilização prático e também como forma de agradecer a Deus pelos milagres.

Fora os livros de Moisés, a música ainda é registrada para diversas outras utilidades na Bíblia, incluindo a terapêutica, conforme vemos no caso em que Davi tocava harpa para acalmar o rei Saul.

A música, portanto, é um elemento extremamente versátil. Por ser tão versátil, muitas vezes é subvertida para o lado negativo. A música, da perspectiva de Deus, há sempre de ser bela, boa e verdadeira, nunca levando a atenção para o músico, mas apenas para Deus.




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