Ciência observacional vs Ciência histórica

Ciência observacional vs Ciência histórica
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Você já ouviu na televisão que há bilhões de anos ocorreu uma explosão no espaço? Ou que há milhões de anos isso ou aquilo aconteceu?

No último século, muitas hipóteses e modelos neodarwinistas têm sido propostos para tentar explicar de forma “científica” a origem da vida na Terra, e todos eles utilizam uma única versão que depende do naturalismo, sendo este base para a suposta evolução química da vida que teria dado origem às primeiras formas de vida. De acordo com o neodarwinismo, a forma mais primitiva de vida do planeta seria um organismo de uma única célula chamado “Luca”, que teria vivido há quatro bilhões de anos. Afinal, alguém estava lá para observar esse organismo considerado ancestral comum universal mudar lentamente para formas mais complexas? Essa é a pergunta fundamental que norteará este texto.

Será que o fato de bilhões de dólares serem gastos anualmente com pesquisas e artigos publicados afirmando conclusões sobre tais formas primitivas de vida se traduz em fazer ciência? Afinal, o que é a ciência?

Segundo a definição usada continuamente pela Academia,

Ciência é a observação, identificação, descrição, investigação experimental, e explicação teórica de um fenômeno.[1]

Dito de forma mais simples, a ciência envolve observar coisas do mundo real e tentar explicar a forma como elas funcionam. A palavra-chave aqui é observação.

Diante disso, podemos retomar a pergunta fundamental: Como alguém poderia saber como ocorreu? Havia alguém lá para observar? Bem, de acordo com o Positivismo Lógico adotado quase sempre (quando convém) pela comunidade científica, uma hipótese só pode ser considerada válida se suas previsões puderem passar por um teste empírico. Embora haja críticas à corrente filosófica positivista por parte de ninguém menos que Karl Popper, essa idéia ainda é muito utilizada no círculo acadêmico. Segundo o professor e físico Arthur Bergold, doutorando em Ensino de Ciências e Educação Matemática pela Universidade Estadual de Londrina,

…observação, identificação, descrição, investigação e explicação são as etapas do método cientifico. É considerado um erro confundir método cientifico com ciência ou afirmar que só se faz ciência seguindo todos os passos do método científico. Estudiosos da área da filosofia da ciência, mais especificamente da NOS (nature of science) criticam isso como sendo uma visão ingênua da ciência. No linguajar próprio deles, ‘naïve conception’. [2: p.514; 3: p.134]

Portanto, é, no mínimo, contraditória a insistência no uso de um princípio verificacionista que não pode ser verificado quando tratamos de pesquisas sobre a origem da vida. Outro ponto importante é que temos de reconhecer que há uma enorme diferença entre ciência observacional e ciência histórica. Ambas são válidas, mas bem diferentes. Vamos definir as duas rapidamente. Ciência observacional é a ciência experimental feita no laboratório ou no campo. Utiliza-se do naturalismo metodológico e envolve repetidos experimentos e observação no presente. É graças à ciência observacional que encontramos cura para doenças, criamos tecnologia como no desenvolvimento de smartphones, satélites, carros, aviões, ônibus espaciais, além de produção de textos como este usando notebooks, entre outras coisas.[4]

Já a ciência histórica é aquela que se preocupa em extrapolar as observações presentes para determinar o que ocorreu no passado distante; no entanto, coisas que aconteceram no passado não podem ser checadas do mesmo modo que faríamos no presente. Alguns geólogos, por exemplo, se utilizam do conceito uniformitarista ao tomar as taxas atuais de decaimento radiométrico e formação rochosa e imaginam que as taxas sempre foram as mesmas. Cada vez mais um número surpreendente de químicos e físicos vem atacando o status científico da evolução neodarwiniana.[5] A crítica mais acentuada da ciência histórica, porém, vem de um editor da Nature, Henry Gee, que explicitamente atacou o status científico de todas as hipóteses sobre o passado remoto. Em suas palavras,

Eles nunca podem ser testados por experiência, e assim eles não são científicos […] Nenhuma ciência pode ser histórica.[6: p.5, 8]

Embora a ciência histórica se baseie em observações, e por isso também seja considerada empírica, quase tudo que extraímos dela em termos de origem da vida, na forma como vem sendo praticada atualmente, é baseado no naturalismo filosófico, isto é, especulações ou, no máximo, evidências circunstanciais de eventos passados com base no que vemos no presente. Isso não significa, contudo, que hipóteses sobre eventos passados não possam ser testadas.[5] Bons pesquisadores históricos se concentram na formulação de múltiplas hipóteses concorrentes em vez de uma única hipótese sobre eventos passados particulares (assim como alguns criacionistas e adeptos do design inteligente o fazem). Cada hipótese deveria ser submetida independentemente a testes severos, com a esperança de que alguns pudessem sobreviver. Apesar disso, temos que admitir que existam limitações de dados históricos ou na forma como a ciência histórica vem sendo conduzida que justificam a necessidade de cautela sobre conclusões. Em outras palavras, não podemos testar diretamente nossas conclusões porque não podemos repetir o passado.[4]

Mesmo diante desse acalorado debate acerca do status científico da ciência histórica, ela segue mantendo sua importância. Vamos usar um exemplo da estátua do Cristo Redentor, aquele monumento carioca com 38 metros de altura e 28 metros de largura, medindo a extensão de seus braços esticados, sendo a terceira maior escultura de Cristo no mundo. Localizado no topo do morro do Corcovado, no Rio de Janeiro, ele foi construído pelo engenheiro brasileiro Heitor da Silva Costa em colaboração com o escultor francês Paul Landowski, e com o engenheiro francês Albert Caquot, entre 1922 e 1931, sendo visitado por milhões de pessoas a cada ano. Bem, advinha só, toda essa descrição é verdade!

Mas como nós testamos se isso realmente confere? Bem, ao aplicarmos ciência observacional, podemos, é claro, observar o Cristo redentor a qualquer momento, quando estamos no Rio de Janeiro. Ele está aqui no presente. Assim, podemos continuar testando a altura e comparando com todas as outras estruturas de Cristo ao redor do mundo, e confirmar a observação que, de fato, ela é a terceira maior escultura de Cristo do mundo. Mas essa é a extensão dos fatos que podem ser confirmados pela ciência observacional em referência apenas a essa afirmação.

Engenheiro Heitor da Silva Costa (1873-1947)

Como realmente sabemos que Heitor a desenhou? Como realmente sabemos que foi iniciada sua construção em 1922 em colaboração com franceses? Como realmente sabemos quantas pessoas a visitaram? Isso tudo está no passado e não pode ser repetido. Para esse tipo de informação, precisamos ir para fora dos limites da ciência observacional e descobrir o que nos foi comunicado por meio de documentos históricos e relato de testemunhas oculares. Além disso, temos que acreditar que essas testemunhas oculares e documentos são confiáveis. O mesmo é verdade quando falamos sobre a origem da vida na Terra. A Terra está aqui, todos concordamos com isso. Mas e quanto à origem da vida? Quando falamos de vida, temos que utilizar especificamente o campo de estudos da vida que é a Biologia. Mas será que o que nos diz a Biologia evolutiva acerca da origem da vida é realmente factual?

O biólogo Ernst Mayr (1904–2005), um dos evolucionistas mais influentes do século 20, escreveu a respeito da filosofia da Biologia. Mayr subdivide a filosofia da biologia em dois ramos fundamentais que não devem ser confundidos: um pertence à biologia funcional (situa-se no campo da ciência observacional/experimental) e o outro se refere à biologia histórica ou evolutiva (ou ciência histórica baseada no naturalismo filosófico).[7] Enquanto na biologia funcional a experimentação científica é frequentemente utilizada, a biologia histórica é caracterizada por cenários imaginários e narrativas hipotéticas nas quais a experimentação não ocorre.

Richard Lenski examina o crescimento de bactérias em uma placa em 12 de janeiro. Ele começou um experimento de evolução em 1988 com 12 frascos de bactérias idênticos para ver se as populações mudariam ao longo do tempo da mesma maneira.

Realmente, entendemos que a maioria das pesquisas que se concentram na biologia funcional tem contribuído para o progresso da ciência com inúmeras descobertas importantes. Podemos mencionar o exemplo do experimento contínuo mais duradouro sobre a evolução, iniciado em 1988 pelo biólogo evolutivo Richard Lenski.[8] Essa pesquisa que dura mais de 25 anos tem relatado um exemplo detalhado sobre a capacidade evolutiva em ação, que ocorre bem diante dos olhos dos pesquisadores envolvidos num laboratório. Lenski e colegas colocaram em 12 frascos cópias idênticas de Escherichia coli. Então, cultivaram a bactéria com uma dieta escassa de glicose (isto é, solução contendo somente nutrientes mínimos para a sobrevivência e reprodução da colônia bacterial) e contendo também citrato. Ao longo das 52 mil gerações (o que equivale a cerca de um milhão de anos para animais de grande porte), a bactéria se adaptou ao ambiente peculiar. A cada 500 gerações (75 dias), Lenski e seus colegas congelavam algumas das bactérias, que poderiam ser aquecidas para serem comparadas ​​aos seus antepassados (descongelados e ressuscitados).

O resultado foi que uma das populações de bactérias se tornou capaz de usar ácido cítrico como fonte de carbono (ou nutriente) em um ambiente aeróbico, algo que até então era desconhecido em populações E. coli em condições semelhantes. Porém, o que não foi mencionado é que bactérias E. coli são capazes de sintetizar citrato normalmente em ambientes anaeróbicos (na presença de glucose ou glicerol), logo, não apresentaram nenhuma nova função. Elas apenas não possuem, normalmente, capacidade de utilizar o mesmo na presença de oxigênio.[9] Ademais, a velocidade de reprodução das cepas caiu de cerca de uma hora para mais ou menos 40 minutos. Além disso, houve mudança de forma, ficando mais arredondadas (sendo que isso, na verdade, já é um processo natural entre as bactérias, quando o meio carece de nutrientes; apenas uma mutação é suficiente para levar algumas cepas a alterar sua forma de maneira definitiva.[10] O curioso é que a mídia esqueceu de mencionar ao público leigo que houve efeitos colaterais resultantes dessas “evoluções”, sendo eles: quatro dessas doze populações desenvolveram defeitos nos sistemas reparatórios de DNA.[8, 11]

Afinal, como resume bem o jornalista da ciência Michelson Borges:

Tudo o que as bactérias adquiriram foi a capacidade de se multiplicar vinte minutos mais rapidamente que seus antepassados. Só isso. Trata-se, portanto, de ‘evolução’ ou simplesmente adaptação? No que as bactérias se transformaram, depois de tanto tempo e tantas gerações? Em nada além de bactérias com pequenas adaptações. E isso é perfeitamente previsto pelo modelo criacionista.

E poderíamos ainda acrescentar outras perguntas fundamentais à discussão: Houve inéditas funções surgindo do nada através de mutações? Houve o surgimento de novo material genético específico e funcional?

Parece que não! O resultado final do experimento foi que a biologia funcional demonstrou em laboratório a diversificação de baixo nível (microevolução) ocorrendo em um tipo de espécie de bactéria. Conclusão: ainda não foi dessa vez que os efeitos macroevolutivos (narrativa imaginária da biologia histórica) foram observados!

Em relação a isso, Mayr também revelou essa outra faceta da Biologia a qual chamou de Biologia evolutiva ou histórica:

A biologia evolutiva, ao contrário da física e da química, é uma ciência histórica – o evolucionista tenta explicar os eventos e os processos que já ocorreram. As leis e as experiências são técnicas inadequadas para se explicar tais eventos e processos. Em vez disso, constrói-se uma narrativa histórica, consistindo numa tentativa de reconstrução de um cenário particular que levou aos eventos que estamos tentando explicar. [12: p.80]

Ele afirma ainda que

…nenhum princípio da biologia histórica jamais poderá ser reduzido às leis da física ou da química;

Neste contexto, ele está se referindo à hipótese do surgimento da vida por meio da evolução química da vida ou proposta do “Mundo RNA”. [13: p. 79]

Em resumo, o know-how (saber prático) científico necessário para fabricar smartphones e computadores está muito mais bem estabelecido do que, digamos, a afirmação de que os humanos evoluíram de algum ancestral comum ao macaco. Percebemos, portanto, que as pesquisas da biologia histórica não nos fornecem pleno conhecimento de como se deu a origem da vida.

Mas será que esse é o único caminho a ser utilizado para compreendermos nossas origens? Lembra da pergunta inicial deste texto? Havia alguém lá para observar a origem da vida?

A resposta é sim! Deus estava lá e Ele nos contou como criou. Ele inspirou pessoas para escreverem Suas palavras que se tornariam livros e que seriam compilados em um único livro completo chamado Bíblia, o qual tem sido comprovado vez após vez e que demonstrou ser totalmente confiável em todas as suas alegações e ensinamentos.[4] Até estudiosos seculares admitem que a Bíblia registra acontecimentos históricos com precisão.[4, 14]

Agora, sobre a ciência observacional, ela também confirma a Bíblia?

Sim! E o que é mais importante perceber é o fato (observável) de que o Universo é lógico e ordenado.[4] Isso faz sentido apenas se o Seu Criador é lógico e impôs ordem sobre a Sua criação. Não faz nenhum sentido se o Universo é só resultado de uma grande explosão. Também só faz sentido podermos observar e repetir experimentos se o Universo obedece constantemente às mesmas leis dia após dia e que, por sua vez, só faz sentido se Aquele que deu a Lei a criou desse modo e a mantém.

 

Referências

[1] The American Heritage Dictionary of the English Language, 1996, s.v. “Science.”

[2] Lederman NG, et al. Views of Nature of Science Questionnaire: Toward Valid and Meaningful Assessment of Learners’ Conceptions of Nature of Science. Journal Of Research In Science Teaching. 2002; 39(6):497–521.

[3] Pérez DG, et al. Para uma imagem não deformada do trabalho científico. Ciência & Educação 2001; 7(2):125-153.

[4] The Nature of Science. Coleção Check This Out. Produzido por Answers in Genesis. Petersburg, 2011. 19 min. Son, Color, formato: DVD.

[5] Cleland CE. Historical Science, Experimental Science, and the Scientific Method. Geology. 2001;29(11):987-990.

[6] Gee H. In search of deep time. New York: The Free Press, 1999, 267p.

[7] Souza Junior NN. Filosofia das Origens: Uma Introdução à Controvérsia Criacionismo x Evolucionismo. Acta Científica. Ciências Humanas 2010; 2(19):9-22.

[8] Blount ZD, Borland CZ, Lenski RE. Historical contingency and the evolution of a key innovation in an experimental population of Escherichia coli. PNAS. 2008; 105(23):7899–906.

[9] Pos KM, Dimroth P, Bott M. The Escherichia coli Citrate Carrier CitT: a Member of a Novel Eubacterial Transporter Family Related to the 2-Oxoglutarate/Malate Translocator from Spinach Chloroplasts. J Bacteriol. 1998; 180(16):4160–4165.

[10] van Heijenoort J. Peptidoglycan Hydrolases of Escherichia coli. Microbiol Mol Biol Rev. 2011; 75(4): 636–663.

[11] Sniegowski PD, Gerrish PJ, Lenski RE. Evolution of high mutation rates in experimental populations of E. coli. Nature. 1997;387(6634):703-5.

[12] Mayr E. Darwin’s Influence on Modern Thought. Scientific American 2000;283(1):78-83.

[13] Mayr E. What makes biology unique? Considerations on the Autonomy of a Scientific Discipline. Cambridge, UK: Cambridge University Press, 2004.

[14] The Smithsonian’s official statement “The Bible as History”. Department of Anthropology, National Museum of Natural History MRC 112, Smithsonian Institution, Washington, DC 20560. Disponível em: http://www.csnradio.com/tema/links/SmithsonianLetter.pdf

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