A santidade não é uma condição mística experimentada com relação a Deus, isolada dos seres humanos. Ninguém pode ser bom teoricamente; tem que sê-lo no mundo real das pessoas. Por isso, veremos alguns aspectos bem práticos da santidade cristã. Aprenderemos como evitar atitudes que podem destruir a harmonia humana.
Observações: quando vemos no texto a letra v significa versículo e cap significa capítulo. Vamos nos basear em Efésios, capítulo 4 e capítulo 5.
Sete exemplos práticos de Santidade (Efésios 4:25 a capítulo 5:5)
Paulo apresenta sete exemplos práticos de santidade. Há três aspectos em comum em todos os sete exemplos:
(1) Todos dizem respeito aos nossos relacionamentos;
(2) em cada exemplo, uma proibição negativa é equilibrada por um mandamento positivo correspondente; e
(3) em cada caso uma razão para o mandamento é dada ou subentendida.
Vamos a eles:
1. Não minta, mas fale a verdade (versículo 25): Se estamos em Cristo, como estabelecem os três primeiros capítulos da epístola, e Cristo é a verdade, não se justifica um comportamento diferente da parte dos crentes. Jesus afirmou que o diabo é o pai da mentira (João 8:44).
2. Não perca a calma, mas controle-se (versículo 26 a 27): Ainda que sejamos de temperamento difícil ou explosivo, não se justifica ferirmos o próximo com palavras e atitudes. Paulo apresenta, nos versos 26 e 27, três coisas que não devemos fazer:
a) “Não pequeis”;
b) “Não se ponha o sol sobre a vossa ira”;
c) “Não deis lugar ao diabo”.
O diabo gosta de ficar espreitando as pessoas zangadas, esperando poder tirar proveito da situação ao provocá-las para o ódio ou à violência, ou a um rompimento da comunhão.
3. Não roube, mas trabalhe e assista ao necessitado (versículo 28): “Não furtarás” – esse é o oitavo mandamento (Êxodo 20:15). Interessante que Paulo não fica apenas na negativa, mas ordena: “antes, trabalhe”, com o propósito de ter alguma coisa para ajudar os outros. Aqui entram dois tipos de pecado: o pecado por comissão, que é a prática do roubo, e o pecado por omissão, que é deixar de fazer o bem (Tiago 4:17)
4. Não use a boca para o mal, mas use-a para o bem (versículo 29): Paulo passa das obras das nossas mãos para as obras dos nossos lábios. “Não furte mais”, que são obras das nossas mãos; “não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe”, que são as obras dos nossos lábios. A fala é um maravilhoso dom de Deus, é uma das habilidades que nos distinguem dos animais. Mas ela pode ser tanto para o bem como para o mal (Tiago 3:1 a 10).
5. Não perca a intimidade com o Espírito Santo, mas aprofunde-se na comunhão (versículo 30): O Espírito Santo não pode ser magoado com as nossas atitudes. O que entristece o Espírito Santo? Como Ele é Santo, o pecado é a causa da tristeza. No contexto aqui, Paulo citou quatro pecados específicos: mentira, ira, furto e palavra torpe (podre, imprópria). Mas sabemos que todo pecado causa tristeza em Deus. O Espírito Santo é um Espírito sensível.
6. Não seja grosseiro, mas demonstre benignidade (versículo 31 e capítulo 5:2): Paulo começa o versículo 31 dizendo: “Longe de vós” e segue uma lista de seis coisas desagradáveis no comportamento cristão:
1) amargura (raiz amarga que produz fruto amargo);
2) cólera (explosão de ira);
3) ira (ira mais profunda, mau humor);
4) gritaria (gritos das discussões);
5) blasfêmia (aqui tem o sentido de difamar alguém);
6) malícia (maldade).
E cinco coisas agradáveis (versículo 32)
1) benignos (gentil, agradável, bondoso);
2) compassivos (ternura interior ou de coração);
3) perdoadores (agir com graça);
4) imitadores de Deus;
5) em amor.
Assim como os filhos imitam os pais, assim nós também devemos imitar nosso Pai celestial, conforme Jesus nos mandou fazer (Mateus 5:45 a 48).
7. Não brinque com as coisas relacionadas ao sexo, mas cuide-se (capítulo 5:3-5): Paulo considera o corpo do crente o templo do Espírito Santo (1Coríntios 3:16-17); logo, todas as partes desse corpo devem ser tratadas com o máximo respeito. Ele relaciona alguns termos que estão ligados à sexualidade humana, indicando que os pecados na área de sexo podem vir de palavras, pensamentos e atos, cujos praticantes não terão “herança no reino de Cristo e de Deus” (versículo cap. 5 v. 5):
a) Impudicícia (porneia, relação sexual ilícita);
b) Impureza (qualquer uso do sexo fora do padrão de Deus é impureza);
c) Cobiça (desejar ter algo ou alguém que não nos pertence);
d) Conversação torpe (palavreado obsceno e vergonhoso);
e) Chocarrices (piadas sujas, linguagem baixa).
Paulo conclui dizendo:
Sabei, pois, isto: nenhum incontinente (no grego pornos, pessoa que desonra o próprio corpo com pecados sexuais), ou impuro, ou avarento, que é idólatra, tem herança no reino de Cristo e de Deus. Versículo 5
Devemos tomar cuidado com a interpretação e aplicação dessas palavras, pois para aqueles que cometem pecados sexuais, mas se arrependem sinceramente, há perdão. Paulo está se referindo à pessoa que se entrega sem vergonha aos pecados sexuais, que é avarento “guloso pelo sexo”, que idolatra o sexo. Para essa pessoa, o reino de Cristo e de Deus não está disponível. Como o próprio Paulo escreveu a Timóteo, são “mais amigos dos prazeres que amigos de Deus” (2Timóteo 3:4). Leia também Colossenses 3:5.
– Para refletir: Das sete questões levantadas, qual é a mais difícil para o crente praticar? Porque? O que significa na prática, “não deis lugar ao diabo”?
Incentivos para o Viver em Santidade (Efésios 5:5 a 20)
O apóstolo Paulo avança no tratamento do comportamento cristão e acrescenta quatro poderosos incentivos para o viver em santidade:
1. A certeza do julgamento (versículo 5 a 7): O corpo humano foi criado por Deus, pertence a Cristo e é habitado pelo Espírito (1Coríntios 6:12-20). Essa é uma razão dada para que os cristãos evitem a imoralidade. Aqueles que estão na prática deliberada da imoralidade atraem sobre si a justa ira de Deus (Romanos 1:26-32; Hebreus 13:4; Apocalipse 21:8).
2. O fruto da luz (versículo 8 a 14): As trevas representam a ignorância, o erro e o mal, ao passo que a luz representa a bondade, a verdade e a justiça.
Os crentes são “luz do Senhor” (v.8); devem andar como “filhos da luz” (v.8). E a prática desse “andar na luz” significa, pelo menos, três coisas:
a) Produzir o “fruto da luz”, que consiste em toda bondade, e justiça, e verdade” (v.9);
b) Fazer “sempre o que é agradável ao Senhor” (v.10);
c) Não ser cúmplice nas obras das trevas, mas reprová-las (v.11).
Infelizmente não é possível viver na luz e desfrutar dela sem também adotar alguma atitude para com aqueles que ainda vivem nas trevas.
O verso 14 soa como um toque de clarim para alertar os crentes. Não podemos relaxar na vida cristã. Se os ímpios estão “mortos nos seus delitos e pecados” (Efésios 2:1), os santos precisam estar acordados para proclamar as “virtudes daquele que nos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz” (1Pedro 2:9). É também uma conclusão, na qual o apóstolo Paulo convida os homens a se voltarem para Deus, usando três figuras:
(1) acordar do sono;
(2) ressuscitar da morte;
(3) sair das trevas para luz.
3. A natureza da sabedoria (versículo 15 a 17): Não é possível praticar a santidade sem observar o próprio comportamento, que deve ser caracterizado pela sabedoria. Santidade requer sabedoria. Andar como “néscio” (“não sábio” ou “insensato”) é não andar como filho da luz. Nesses três versículos, Paulo nos dá duas características do andar sábio:
a) Os sábios são os que usam melhor o seu tempo: “Remir” significa “comprar de volta”, “resgatar”, “usar plenamente”, e, nesse caso, tirar o maior proveito do tempo seria a melhor tradução, sendo que “tempo” (kairos) se refere a cada oportunidade que passa. “Todos nós temos a mesma quantidade de tempo à nossa disposição, com sessenta minutos por hora e vinte e quatro horas por dia. Nenhum de nós pode esticar o tempo. Sabemos que o tempo está passando e que os dias são maus. As pessoas sábias têm consciência de que o tempo é um bem precioso.” (comentarista Stott)
b) As pessoas sábias procuram compreender qual a vontade de Deus: Tentar viver a vida cristã fazendo a própria vontade é pura insensatez. Descobrir e praticar a vontade de Deus é pura sabedoria. Além disso, temos de distinguir entre a vontade geral e a vontade particular de Deus. A vontade geral de Deus está nas escrituras e a vontade particular de Deus, isto é, as decisões detalhadas, encontraremos nos princípios gerais das Escrituras, na oração particular, e no conselho de crentes maduros e experimentados.
4. A vida cheia do Espírito (versículo 18 a 20)
a) O Espírito em Efésios: Ao longo da epístola aos Efésios, o apóstolo faz três colocações interessantes sobre o Espírito Santo.
1) Uma afirmação: “fostes selados com o Espírito Santo da promessa” (Efésios 1:13).
2) Uma exortação: “E não entristeçais o Espírito de Deus” (Efésios 4:30)
3) Um mandamento: “enchei-vos do Espírito” (Efésios 5:18)
b) O Espírito e o vinho: Antes de falar do Espírito, Paulo fala do vinho: “não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução” (v.18). A palavra “dissolução” traduz um termo grego que indica ações desenfreadas e desregradas. No poder do vinho ou de qualquer bebida alcoólica, há desagregação. A embriaguez produz andar cambaleante, dias perdidos, mente entorpecida, cântico desafinado e relacionamentos prejudicados. Mas a vida cheia do Espírito produz adoração e comunhão (v.19), gratidão (v.20), submissão e respeito mútuo (v.21).
c) “Enchei-vos do Espírito”: A fim de entendermos melhor essa expressão, analisemos quatro aspectos gramaticais conforme o texto original grego.
1º: está no modo imperativo: “Enchei-vos” não é uma proposta alternativa, mas, um mandamento. É obrigatório, não é opcional;
2º: está na forma plural: “A plenitude do Espírito não é um privilégio elitista, mas, uma possibilidade para todo o povo de Deus”;
3º: está na voz passiva: O sentido é “deixe o Espírito Santo encher vocês”. Ninguém enche a si mesmo do Espírito, mas é enchido por Ele;
4º: está no tempo presente: Devemos continuar ficando cheios. “A plenitude do Espírito não é uma experiência de uma vez para sempre, que nunca podemos perder”. Ao contrário, é uma busca contínua, pois temos necessidade de estar cheios do Espírito todos os dias e em todos os momentos do dia.
Conclusão
Será que os meus atos refletem santidade ou carnalidade? Santidade é mais que uma teoria. É uma experiência que se evidencia em nosso dia a dia.
Vejamos como Paulo coloca esse assunto aos colossenses:
Ora, como recebestes a Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nEle, nEle radicados, e edificados, e confirmados na fé, tal como fostes instruídos, crescendo em ações de graças. Colossenses 2:6-7
É esse “andai nEle” que caracteriza a santidade na vida prática.
O salmista pergunta:
Quem subirá ao monte do Senhor? Quem há de permanecer no Seu santo lugar? Então ele mesmo responde: o que é limpo de mãos e puro de coração, que não entrega a sua alma à falsidade, nem jura dolosamente. Salmos 24:2-4
Perguntas para você mesmo responder:
– Seus atos têm refletido carnalidade ou santidade?
– Existe alguma atitude carnal que você precisa abandonar? Qual ou quais?
– Existe alguma atitude cristã que você precisa praticar para desenvolver uma vida em santidade? Qual ou quais?
Ore a Deus e confesse a Cristo as suas dificuldades carnais e peça ao Espírito Santo a ajuda para viver em santidade.
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Um pensamento em “Aspectos práticos da santidade”
Muitas ocasiões de pecado, eu não as evitei, elas me foram evitadas, diplomáticas e providenciais. Voltarei 40 anos atrás. Éramos 2 engenheiros. O colega, profissional espertíssimo, casado pai de 3 filhas, era, porém, acometido de satiríase. Morávamos juntos em uma frente bandeirante e urbana de obras, interiorzão de Minas. Boca da noite por vezes ele me convidava para irmos juntos a baladas e badalações. Cada um no seu carro, a premissa é que iríamos pegar mulher. Na boate eu até curtia alguns embalos em meio a luzes foscas, trepidantes, num mar de silhuetas de mulheres lindas, perfumadas e seminuas. De repente os Céus me mandavam que eu fosse embora. Nunca passava de 1 hora da madrugada, eu simplesmente desaparecia. Era como que uma fuga, fuga das ocasiões de pecado. Madrugadona eu percebia ele chegando em casa sempre com uma mulher. Nunca mais ouvi falar deste nobre colega. Eu não preciso saber, Deus sabe e Deus é poder e misericórdia…:)