Convidado a fazer uma preleção sobre a crítica, o conferencista compareceu ante o auditório superlotado, sobraçando pequeno fardo. Após cumprimentar os presentes, retirou os livros e a jarra d’água de sobre a mesa, deixando somente a toalha branca.
Em silêncio, acendeu poderosa lâmpada, enfeitou a mesa com dezenas de pérolas que trouxera no embrulho, várias dúzias de flores, apanhou da sacola diversos “biscuits” de inexprimível beleza, representando motivos edificantes. Em seguida, situou na mesa um exemplar da Bíblia em capa dourada. Depois, com o assombro de todos, colocou uma pequenina lagartixa num frasco de vidro. Só então comandou a palavra, perguntando: o que vocês estão vendo?
E a platéia respondeu, em vozes discordantes: um bicho, um lagarto horrível, uma larva e um pequeno monstro…
Quando pararam de falar, o conferencista disse: assim é o espírito da crítica destrutiva, meus amigos! Vocês não enxergaram o forro de seda, nem as flores, nem as pérolas, nem as preciosidades, nem a Bíblia, nem a luz faiscante que acendi. Viram apenas a diminuta lagartixa…
E concluiu:
– Nada mais tenho a dizer…
Raciocínio:
Quantas vezes nos fazemos de cegos para as coisas ou situações valorosas da vida e nos acostumamos a ver somente os fatos que denigrem a sociedade humana? Aprendemos olhar para os detritos morais das criaturas. Criticamos a mídia por enfatizar as misérias humanas, mas a verdade é que tudo isso só existe porque ainda nos fascinam – temos curiosidade em saber. Em última análise, é o que vende!
Não há espaço para uma mensagem edificante, e os que teimam em veicular coisas e situações nobres, o fazem sob peso de enormes dificuldades. É imprescindível atentarmos para os nossos valores ou desvalores, antes de levantarmos a voz para criticar a sociedade e os meios de comunicação em geral.
É importante observarmos os nossos interesses pessoais antes de gritarmos contra os governantes, sem esquecer que eles só ocupam os cargos depois de eleitos por nós mesmos. Enfim, é relevante darmos crédito para os que buscam divulgar o bem e o belo. Com a exaltação do bem ao invés do mal, com a evidência da paz ao invés da guerra, com a elevação do perfume sobre os odores fétidos. Assim, quem sabe, a sociedade procurará superar suas misérias, evidenciando as belezas e os atos de essência superior.
Texto: Hermínio C. Miranda, adaptado por Raciocínio Cristão.